Caso você não tenha lido a história desde o começo não se avexe, acesse a sessão do tema acima e leia desde o inicio, você não vai se arrepender. Essa é uma história real, tudo nesse blog é real, apesar de às vezes não parecer, e essa aventura especificamente parece aqueles filmes de comédia pastelão.
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No capítulo anterior:
...Incrível como tudo estava dando certo, depois do receio de eu não achar lugar nem voos esta tudo programado
Voos para Isla, para Los Roques, estadias, passeios, câmbio, só faltava chegar o dia da viagem, e ele chegou.
Arrumamos as malas e fomos ao aeroporto. Embarcamos. Chegamos em Caracas. Na esteira onde pegamos as malas um agente do aeroporto, todo identificado, pegou no braço, falou algo em "portunhol" nos meus ouvidos que me deixou muito preocupado...
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- Não confie em ninguém aqui para trocar moedas.
Eu entendia muito bem o Espanhol, mas eu não havia entendido o que ele queria dizer. Na verdade eu escutei muito bem o que ele disse, só realmente não estava compreendendo o porque que ele havia dito
- Como assim, não confiar em ninguém?
- As as pessoas vendem muitos Bolívares falsos e trocar com o banco não é o melhor câmbio, posso "cambiar" para você.
Toda a conversa foi em espanhol mas para ficar fácil o entendimento estou já citando-as em português.
- Mas não vou trocar Bolívares com ninguém, eu já tenho um contato aqui que vai fazer o câmbio pra mim.
- E se ele não estiver ai, como você vai fazer?
Esse cara tava me deixando preocupado, ele insistia em querer me alertar para qualquer coisa, e como era um agente oficial do aeroporto, não tinha porque duvidar dele
- Lilian, esse rapaz está querendo me alertar que eu deveria trocar moedas com eles agora.
- Mas você não tinha marcado com um cara aqui, por indicação do seu amigo?
- Sim, mas ele comentou que talvez esse cara nem esteja aqui, to com medo, vou trocar um pouco e pelo menos garanto alguns Bolívares caso esse rapaz não esteja.
- Você quem sabe, mas não podemos nos atrasar porque temos que pegar o voo para Isla Margarita.
- Vou falar com ele já, enquanto isso vai na esteira e pegue nossas malas.
- Senhor, vamos trocar uns 200 dolares com você sim
Negociamos o cambio. Ele me daria um pouco mais do que o cara que eu havia feito o acordo desde o Brasil, e neste momento eu já estava pegando os dolares na carteira, mas ele segurou minhas mãos e com um ar meio preocupado me disse
- Não tire dinheiro aqui não, estamos sendo filmados e o governo não nos deixa trocar moedas no paralelo, olha, me da 2 minutos, vou pegar o dinheiro correspondente a 200 dolares, eu chego aqui, finjo que vou te dar a mão, te entrego o dinheiro, você vai no banheiro, conta, se estiver tudo certo na saída do banheiro você já fica com os 200 dolares na mão e me entrega do mesmo jeito que eu te darei os Bolívares.
E virou as costas e saiu sei la para onde
Que estranho tudo isso, o que eu faço, fico aqui ou esqueço esse cara??
Mas já combinei com ele, não ia desistir agora.
Ele voltou, estendeu as mãos e eu fui "cumprimenta-lo". Ele me deu um monte de dinheiro enrolado num saco plástico, coloquei no bolso e fui ao banheiro.
Chegando lá todas as "casinhas" estavam ocupadas, como se por uma coincidência enorme todos os homens daquele aeroporto estavam com dor de barriga, já que se fosse só para urinar, os caras não precisariam ficar dentro das "casinhas". Mais alguns entraram no banheiro, e todos com as mãos no bolso, eu não resisti
- Vocês são Brasileiros?
- Sou Uruguaio - disse um deles
- Nós somos Brasileiros - disseram os outros dois.
- Por acaso vocês estão aqui para contar dinheiro?
Um olhou para o outro, um deles riu e me disse
- Sim, um cara me deu um monte de dinheiro e pediu para eu contar aqui.
Um outro Brasileiro saiu da casinha e havia ouvido nossa conversa
- Eu também recebi, alguém sabe identificar se a moeda é falsa?
- Putz - pensei em voz alta - verdade, como eu vou saber se o dinheiro é verdadeiro, o engraçado é que se todos estão aqui é porque a história que todos contam, de não confiar em ninguém, eles falam pra todo mundo
- Sim, foi o que me disseram, eu ia trocar no banco mas o banco paga muito pouco, ai um outro turista me deu a dica de trocar com o pessoal aqui do aeroporto - disse um turista.
- Comigo foi o mesmo - interferiu um outro - e eu fiz isso uma outra vez que estive aqui, e não faz diferença se a moeda é verdadeira ou não, qualquer um aqui na Venezuela vai aceitar qualquer moeda que vocês entregarem a eles, a economia aqui está horrível e em geral eles querem dinheiro, não se preocupem com isso.
Vixe, que coisa estranha, mas enfim, contei minha parte, estava certa, separei os 200 dolares e logo na saída do banheiro o rapaz estava lá me esperando, "cumprimentei" o cara, ele nem olhou quanto tinha, já colocou no bolso, agradeceu e saiu.
Eles pedem para não confiar em ninguém mas eles acreditaram em mim sem saber se eu tinha separado os 200 dolares.
Será que eles já levaram algum calote de alguém, de uma pessoa mal intencionada dar menos dinheiro do que o combinado? Bom, problema não é meu.
- Lilian, Lilian, cadê nossas malas?
- Não apareceram ainda, e ai, trocou o dinheiro?
- Sim, tudo aqui - e contei a ela a conversa que tive no banheiro com os outros turistas
- Que confusão - disse ela - muito estranho essa história.
- Também achei mas agora já era, vamos esperar as malas e depois vamos nos encontrar com aquele cara que vai trocar o restante da grana pra gente.
- Sim Xã, mas não podemos demorar porque temos que pegar o voo para Isla Margarita.
- Lilian, temos mais de 3 horas de conexão, temos tempo, relaxa
Pegamos as malas. Esse rapar que ia fazer o cambio para nós disse que estaria num guichê logo a frente do balcão das cias aéreas de lá, pouco antes da entrada para o embarque do voo que pegaríamos à Isla Margarita, no aeroporto nacional.
Como em qualquer aeroporto, pegamos as malas, passamos por um raio X (já havíamos passado pela imigração) e passamos para o lado de fora do local onde pegamos as bagagens, entrando no saguão central.
Nesse momento, onde em geral ficam várias pessoas com plaquinhas para identificar os turistas, vem uma série de Venezuelanos falando ao mesmo tempo
- Faço cambio, quer dinheiro, precisa de carro, já tem hotel, vai pra onde, de onde você são???
E mais um monte de perguntas que não paravam mais, pareciam aqueles caras vendendo bugigangas em praia do nordeste, um inferno.
Eu só falava
- No, gracias, no gracias, no gracias
Não aguentava mais falar NO GRACIAS mas fiz a burrada de perguntar para um deles onde ficava o check-in do aeroporto Regional.
O que acontece é que lá os aeroportos são separados por alas, e era necessário sair do saguão do aeroporto internacional, pegar uma rua e ir até o aeroporto nacional.
- O senhor deveria ir ao outro aeroporto por uma passagem sem sair pra cá, porque aqui tudo é muito "peligroso" - disse o tal homem.
- Mas como ir por dentro, e agora?
- Agora eu levo vocês até la, é mais seguro
E gritou para não sei quem, que veio com um carrinho de malas, pegou nossas malas sem ao menos eu dizer que queria a ajuda dele, e já foi andando ligeiro para fora do aeroporto
- Xã, Xã, eles vão roubar nossas malas, vai atras dele
E eu sai correndo para alcança-lo, correndo da minha forma, meio manquitolando devido meio joelho.
Eu o alancei
- Senhor, ta louco, vai fazer o que com nossas malas?
- No te preocupes.
Como não me preocupar,o cara pega minhas malas e sai correndo, tá louco?
- Eu não vou rouba-lo mas tenho que ir logo para poder voltar para cá e continuar meu trabalho
A Lilian nessa hora nos alcançou, sei la, pedi para ele ir mais devagar então e ele sai na rua e disse para ficarmos atentos com os bandidos. Andamos um calçadão enorme, sem atravessar a rua e uns 30 metros mais adiante entramos numa outra ala do aeroporto.
Ele nos deixou mas pediu uma "propina".
Puta merda, o cara quer gorjeta, claro, ele não iria nos "ajudar" de graça.
Não sabia o quanto dar. Ele me sugeriu uns 2 dolares. Dei 1, e ele saiu tão rápido que nem deu tempo de eu "agradece-lo".
Esse povo parece que tem rodinhas nos pés - pensei.
Fui procurar o tal guichê para eu trocar resto do dinheiro. Na verdade eram pequenas lojas ou de aluguel de carro, ou de turismo, ou de outros serviços e eu tinha o numero do "box" dele, mas antes mesmo que eu pudesse procura-lo eu escuto:
- Senhor Alexandre, senhor Alexandre?
- Sim, sou eu.
- Sou o Jorge, combinamos que eu ia trocar os dolares com você?
- Como você sabe que era eu?
- Ah, eu estava esperando um casal e pelo horário do seu voo eu imaginei que poderia ser você, eu já havia perguntado para outros casais mas não tinha te encontrado, aqui não se pode confiar em ninguém, queria ter certeza que você ia me encontrar para não trocar dinheiro com qualquer um, principalmente com o pessoal do aeroporto, eles são enrolados demais.
Pelamor, eu já tinha falado com o pessoal do aeroporto, suei frio.
- Venha até minha loja, vamos trocar o valor lá, é mais seguro.
Seguro, confiar, aquele lugar já tava me dando medo
Chegamos na loja dele, a gente havia combinado de trocar uns 500 dolares, mas eu já havia "cambiado" 200, e tive que explicar para ele o que aconteceu.
- Mas não tínhamos acertado tudo já? - me repreendeu o tal sujeito
- Sim, mas da forma que ele falou achei até que eu não te encontraria.
- Mas agora eu ja separei seu dinheiro e por um bom valor de cambio, não posso voltar com esse dinheiro.
Como assim "voltar com esse dinheiro"? O dinheiro não era dele? De quem era? Que prejuízo ele teria se ficasse com um valor a mais
- Xã, o que ele ta dizendo? - perguntou a Lilian
- Ele disse que ou troca tudo ou não troca nada, que não pode fazer o cambio de parte do valor
- Mas ai vamos ficar com muito dinheiro
Ela tinha razão. Eu perguntei pra ele se ele pegaria o valor de volta caso eu não gaste tudo, porque não tinha lógica eu voltar ao Brasil com Bolívares. Vou fazer o que com essa grana la?
Ele concordou e mesmo contra a vontade da minha mulher, eu troquei os 500 dolares. Ou seja, havia trocado 700 dolares ao todo para ficar 10 dias viajando, não era ruim, mas só saberíamos na volta.
O cara pegou meus dolares, abriu uma espécie de cofre e me deu um monte de Bolívares, ao cambio de 8 Bolívares para cada 1 dolar.
Ele nos orientou sobre o local onde deveríamos pegar nosso próximo voo, que sairia em umas 2 horas.
Estamos no horário, que bom?
Fui ao guichê da ASERCA com o voucher do meu voo, que eu havia comprado no DESPEGAR.COM
Pegamos a fila. Chegou nossa vez
- Buenas tardes - falei eu abusando do meu sotaque tupiniquim
- Buenas tardes senhor - disse o funcionário da ASERCA
Eba, iríamos a Isla Margarita. Lá uma pessoa estaria nos esperando para nos levar ao hotel e dia seguinte eu iria realizar um sonho, que era nadar com golfinhos. Eu estava super animado apesar de toda aquela situação do dinheiro.
- Senhor, pode me acompanhar até a gerência por favor?
- Claro.
Gerencia? O que houve? Gelei.
- Senhor Alexandre, esse seu voo já partiu faz 40 minutos.
- Como assim, meu voo já partiu? Eu paguei a passagem, está aqui olha.
- Sim, mas esse voo mudou de horário, a agência não te avisou?
Não, não me avisou, a porra do DESPEGAR, DECOLAR, DO CACETE A QUARTO não me avisou.
- E agora?
- Agora que estamos lotados até o reveillon, não tem muitos voos diários para Isla Margarita.
- Como lotado, preciso ir para la, tenho reserva de pousada, de passeios de tudo.
- Não podemos fazer nada.
- Quero pelo menos meu dinheiro de volta, vou precisar dele para tentar comprar a passagem em outra companhia.
- Senhor, não damos dinheiro de volta, o senhor tem que reclamar isso com a agência que te vendeu a passagem
- Xã, o que esta acontecendo? - perguntou a Lilian sem entender aquela discussão, já que estávamos falando em Espanhol
- Lilian, o cara disse que perdemos nosso voo.
- Como perdemos nosso voo?
- Mudou de horário e já saiu faz 40 minutos
- Como assim Xã?
- Lilian, já saiu, já era, não temos mais os voos
- E vamos fazer o que agora?
- Não sei, não sei - e por dentro eu comecei a chorar
Eu sempre cuidei muito bem das passagens de meus clientes, porque trabalho com turismo mas estar na num pais onde ninguém parece confiável, tendo um baita problema com um voo que é meu, percebi que sou muito melhor resolvendo os problemas dos outros do que o meu próprio.
- Senhor - me dirigi ao gerente da ASERCA - podemos fazer algo, por favor, tenho que chegar a Isla Margarita.
- O senhor pode aguardar até umas 21:00 que é nosso ultimo voo e se houver alguma desistência a gente te encaixa, só assim.
Puta merda, que enrascada eu fui me meter, sempre aconselhei meus passageiros a não comprar passagens nesses sites de busca e eu, EU, fui comprar e me dei mal. Se algum cliente vier com papo que comprou passagens nos sites da vida e tiverem problema eu não vou ajudar, vai se ferrar, que burro eu sou
Eu não sabia o que fazer, tinha que respirar e pensar.
(continua...)
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