Essa é uma história real de superação, desilusões, acidentes, e muito mais
Caso queria acompanha-la desde o inicio basta acessar a sessão DA BATATA FRITA À CARNE SECA e entrar nessa minha saga pessoal onde eu conto como cheguei no fundo do poço financeiro e como eu sai de la.
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CAPÍTULO 2 - AGI, AGIOTA, AGI COMO UM IDIOTA
MAIO DE 2002
Meu escritório era nos fundo da casa onde eu morava. Toca a campainha
- Ola Silvério, você por aqui???
Silvério era meu fornecedor de lanches.
Naquela época eu organizada excursão rodoviária e eu dava lanches para os passageiros, ele que fazia.
Ele também organizava toda a distribuição de lanches para a maior operadora de turismo de um grande Rosort em Goias, ou seja, ele era uma pessoa aparentemente confiável
E eu sempre tive um grande problema na minha vida, eu acreditava demais nas pessoas.
- Tudo bem Alexandre, e ai, está precisando de alguma coisa?
- Não Silvério, já reservei lanches para todas as minhas próximas excursões, está tudo em ordem
Um silêncio constrangedor tomou conta daquela sala.
- Bem, você quer uma água, um café?
- Uma água eu aceito.
Enquanto eu ia buscar a água fiquei pensando o que um fornecedor iria fazer no meu escritório sem mais nem menos. Eu já conhecia o Silvério há uns 2 anos, até já fiz uns trabalhos para ele. Como eu sempre precisava de dinheiro ele me chamava para eu entregar lanches em algumas empresas, e a empresa dele também fornecia kits de alimentação para faculdades em época de vestibular, para dar aos professores, mas toda vez que ele precisava de mim ele me ligava, nunca ia pessoalmente falar comigo.
- Toma, e ai, que faz por esses lados?
- Então Alexandre, queria te pedir um favor.
Lição de casa: quando alguém que você não conhece muito te pede um favor do nada, tem a ver com dinheiro, e cuidado, se envolver com o dinheiro dos outros é dar um tiro no pé, e o meu sempre pareceu uma peneira. Pior é que eu não aprendia nunca.
- Fala, o que eu posso te ajudar?
- Você ainda troca cheques não?
Cabe uma explicação aqui. Trocar cheques a que ele se referia era simples. Meus clientes pagavam suas viagens com cheques pré-datados. E como eu tinha que pagar ônibus, lanches, hotel, guias, e todos os demais serviços de uma excursão, eu precisava de liquidez e eu nunca tive dinheiro guardado, então eu ia no banco, entregava os cheques dos clientes como custódia e o banco me pagava tudo à vista, descontando um juros e uma taxa.
- Troco sim, porque?
- Queria te fazer uma proposta.
Proposta, que proposta ele poderia me fazer? E o que isso tem a ver com a troca de cheques que eu fazia?
- Você sabe que minha esposa trabalha no banco do Brasil certo?
Sim, eu sabia, ele já havia me dito isso algumas vezes, não sei porque ele citava essa informação em papos isolados, e depois fui perceber que ele havia feito de caso pensado
- Sim, sei, o que tem ela?
- Então, eu sei que você também sempre reclama que precisa de dinheiro, que está pendurado, que usa muito o cheque especial - eu e minha boca grande, eu realmente fala isso para todo mundo - e acho que posso te ajudar.
Perai, um cara chega no meu escritório sem mais nem menos, fala que precisa pedir um favor e ai vem com "eu acho que posso te ajudar?".
- Hum, respondi meio desconfiado
- A ideia é simples, eu te dou um cheque de um valor que você precisar, você troca no banco e pega essa grana à vista, cobre o seu especial e como o banco cobra um valor muito menor na troca de cheques do que os juros que você usa no especial, é como se você estivesse fazendo um empréstimo comigo. E uns 2 dias antes do meu cheque ser compensado, você me deposita a grana cobrindo meu cheque. Mesmo que você precise usar o cheque especial daqui 30 ou 60 dias, pelo menos você ficou todo esse tempo pagando um juros bem menor.
Realmente fazia sentido o que ele disse, eu já usava isso com os cheques dos meus clientes, mas nunca pensei em pegar um cheque de terceiros, colocar no meio do "bolo" e usar isso como um empréstimo.
- Mas o que tem a ver isso com sua esposa?
- É que como você sabe, eu não tenho cheque porque tenho um processo e meu nome esta negativado...
(Sim, eu sabia disso também, ele já havia me contato, na verdade eu descobri isso quando eu fui contratar a primeira vez a empresa dele. Descobri que o CPF dele estava sujo e fiquei receoso em contrata-lo, mas como eu tinha a referência dele daquela grande operadora de turismo, achei melhor perguntar a ele porque da restrição e ele me explicou um problema sobre o fato dele ter sido avalista, enfim, eu tinha um grande problema, eu confiava demais nas pessoas, e nem questionei)
... e eu uso cheques da minha esposa para fazer tudo o que preciso para mim e para a minha empresa, ela já sabe que eu quero te ajudar porque eu sempre falo de você, o quanto você é batalhador, um menino honesto e ela não questionou.
Quer sacanear alguém? Fácil, comece a elogiar essa pessoa, inflame seu brio, faça essa pessoa se sentir bem e ai de uma facada nas costas dela, depois de algum tempo era isso que havia acontecido, mas naquele momento ele estava na etapa de me elogiar, e eu não havia percebido nada de errado, porque eu confiava demais nas pessoas.
- E você me daria um cheque assim, sem mais nem menos?
- Sim, porque não?
- Porque no começo da conversa você ia me pedir um favor, agora está me oferecendo ajuda, não to entendendo.
- É que eu acho que uma mão lava a outra, eu também, como você, preciso de liquidez, e tenho um monte de cheques de clientes meus pré-datados, mas não posso trocar em banco porque o meu nome ta sujo, e como o banco vincula o CNPJ da minha empresa com o CPF, só quem não tem restrição pode descontar cheque em bancos.
Ele tinha razão, eu sabia disso sim.
- E eu poderia te dar uns 2 cheques, um é para você, e o outro você desconta e me da o valor em dinheiro.
- Mas Silvestre, se eu pegar o dinheiro que o banco me da e te repassar, na hora que cair o seu cheque, e se ele vier sem fundos, o banco vai me cobrar, eu só faço descontos de cheques no banco com clientes porque se um cheque volta o cara não viaja, mas que garantia eu vou ter que o cheque da sua esposa não vai voltar?
- Porque ela trabalha no Banco do Brasil e não pode ter o nome sujo, além do mais você tem um cheque meu que vai ficar com dinheiro, ele já é uma garantia, se eu meu cheque voltar você não me devolve o valor do cheque que eu passei para você. E faço mais, posso até deixar um cheque em branco com você, assinado pela minha esposa, e você fica com mais essa garantia
Eu estava meio confuso com tudo isso e comecei a recapitular o caso na minha cabeça, vamos la, passo a passo:
1) Eu pegaria um cheque dele, vamos supor, de R$ 1000,00, e ele pré-dataria para 30 dias.
2) O banco me pagava esse valor a vista, descontando um juros baixo em relação ao cheque especial, uns 3% contando juros + taxas, ou seja, me daria algo em torno de uns R$ 970,00.
3) Daqui 30 dias eu teria que dar ao Silvério o valor de R$ 1000,00 para ele cobrir o cheque, eu estaria pagando R$ 30,00 pelo "empréstimo", o que era muito mais em conta do que os 10% que o banco me cobrava quando eu usava o cheque especial, e eu sempre usava o cheque especial.
4) Ele me daria outro cheque, do mesmo valor, para uma data também daqui 30 dias, mas esses R$ 970,00 eu entregaria para ele.
5) E daqui 30 dias o banco descontaria os dois cheques da esposa dele, os cheques não voltando ficaria todo mundo feliz.
6) Ele havia me dado um cheque em branco, se o cheque voltasse o banco me cobraria aquele valor, e eu poderia processar o cheque e ainda poria um valor qualquer num cheque em branco e teria assim uma suposta garantia para essa transação
Bom, achei que eu não tinha risco, na frente dele liguei para o meu banco como eu sempre fazia
- Arnaldo, é o Alexandre da Alto Astral, tudo bem?
Arnaldo era meu gerente do banco
- Ola Ale, o que posso ajudar?
- Preciso descontar uns cheques e queria ver se o CPF do "meu cliente" está OK
Esse procedimento era normal, eu sempre ligava para o banco para saber se o CPF esta limpo, porque o banco jamais pegaria um cheque e me pagaria a vista se o CPF da pessoa tivesse restrição, e pelo que vi no cheque, a esposa do Silvério era cliente OURO
- Pode descontar sem problemas Ale, essa cliente nunca teve restrição.
- Valeu Arnaldo.
- Bom Silvério, vou aceitar sua proposta, mas mesmo assim to com muito medo de fazer tudo isso.
- Entendo Alexandre, mas posso fazer mais, daqui 30 dias você terá que me devolver os R$ 1000,00, já você precisa cobrir um dos cheque, que é de sua responsabilidade certo?
- Certo
- Eu pago esse cheque e você só me devolve depois que o cheque compensar
Na prática quando um cheque volta, se ele foi descontando no banco, era assim
Eu dava um cheque de um cliente para o banco, cheque para 30 dias, o banco me pagava o mesmo a vista, como um empréstimo e pegava o cheque como garantia, descontando o tal juros. Se o cheque fosse compensado banco me emitia um aviso de "prestação paga".
Se por algum problema o cheque voltasse o banco sacava da minha conta o valor do cheque e me entregava o cheque sem fundo, e ai cabia a mim resolver isso com o dono do cheque
Como o Silvério disse que esperaria compensar o cheque, na verdade o risco maior era dele, porque ele me deu um cheque, eu peguei a grana, se eu não pagasse ele ele que iria sair no prejuízo, ou seja, o cara tinha que ter muito mais confiança em mim do que o inverso
E como o aval do meu gerente havia sido dado, achei que valeria muito essa jogada, e peguei os dois cheques deles, juntei com mais alguns que eu tinha la de uma excursão que eu tinha feito e esperei os 30 dias chegarem para saber se eu não havia me ferrado e pela minha surpresa deu tudo certo.
Os dois cheques foram compensados, o meu único problema é que eu precisava pagar os R$ 1000,00 para ele, como combinado.
30 dias depois o Silvério aparece no meu escritório para pegar a grana.
- E ai Ale, ajudou o valor que eu te "emprestei"?
- Sim, ajudou muito, o problema é te pagar agora (risos), porque eu tenho um financiamento com o banco que me tira um valor muito alto, devido o acidente (ele sabia do acidente, citarei esse caso num capítulo específico) e como as vendas não estão boas, eu com o valor liquidei uma prestação atrasada e no fim usei o seu valor e nem sai do especial.
- Não tem problema.
Como assim não tem problema, eu falei que gastei a grana, que estava com dificuldades em pagar e ele nem piscou?
- Faz o seguinte Alexandre, eu te dou mais um cheque para daqui 30 dias, você desconta no banco de novo, e quando o banco te pagar, você me da a grana e quita o que você me deve, e assim não precisa tirar dinheiro do bolso agora e ganha mais um fôlego.
Na verdade eu iria paga-lo, só comentei para ver a reação dele mas eu acabei aceitando a proposta e peguei mais um cheque dele, e com esse cheque ele me deu mais um, para que eu faça a jogada para ele também.
Só que isso não ficaria assim, tão simples, por muito tempo....
(continua...)
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